Terça-feira, 26.07.11

A importância do brinquedo e do brincar no desenvolvimento infantil

 


Por Dina Florêncio, Educadora de Infância

Os brinquedos são um grande suporte para a nossa prática como educadores
em todos os níveis de desenvolvimento, mas no que se refere à creche são sem dúvida uma mais valia enorme

Qualquer bebé ou criança pequena, mesmo tendo toda a atenção e carinho por parte dos pais, experimenta a determinada altura da sua vida uma situação de angústia, de medo, de contacto com pessoas estranhas…

A vinculação que é inicialmente mais forte com a mãe e com o pai, vai depois sendo criada com as várias pessoas que passam pela nossa vida, no entanto, tudo é mais fácil e seguro para as crianças se tiverem com elas um brinquedo, uma fralda, um ursinho, enfim, algo que lhes dê tranquilidade e segurança em todos os momentos que os pais não estão presentes.

É muito comum quando chegam à creche as crianças trazerem determinados hábitos que os pais nos comunicam (às vezes até com um pouco de vergonha), tais como: dormir com uma fralda de pano, ter um brinquedo que a acalma quando chora muito ou até chuchar no dedo, mas a verdade é que estes hábitos facilitam com frequência a adaptação da criança à creche e também o nosso trabalho enquanto educadores.

Às vezes só depois de entrar na escola é que determinados bebés se relacionam afectivamente com algum objecto, pois só nesta altura experimentam a dor da ausência familiar, mas o certo é que com a ajuda de “um amigo especial” tudo se torna mais fácil. Há pais que tentam afastar os filhos destes hábitos, pensando que sejam maus, no entanto, nunca devemos fazê-lo à força, pois se este ou aquele objecto funciona como elemento de segurança para os nossos filhos devemos respeitá-los.

Mas a importância do brinquedo no desenvolvimento da criança vai ainda mais além quando falamos de todas as suas possibilidades de estimulação e aprendizagem.

No berçário podemos encontrar muitos brinquedos de muitas cores, formas e feitios, mas todos eles macios, com som, sem perigos e bastante atractivos, pois é através da exploração destes brinquedos que os nossos bebés vão treinar a sua audição, estimular a sua capacidade de memória visual e ainda dar asas à sua imaginação.

O cão é como todos sabemos uma das grandes paixões dos bebés, às vezes tão notória que aprendem a dizer “ão-ão” antes de pai ou mãe. O interesse pelos animais advém muitas vezes dos fantásticos brinquedos que todos nós temos nas nossas casas e instituições e que fazem o som do cão, do gato, da vaca, etc.

Os brinquedos são um grande suporte para a nossa prática como educadores em todos os níveis de desenvolvimento, mas no que se refere à creche são sem dúvida uma mais valia enorme para nós.

Quando começam a brincar com os “legos”, as crianças descobrem a magia das cores, das formas e de como tudo encaixado pode dar origem a fantásticas construções que depois se recusam a desmanchar para que as possam contemplar horas a fio. Capacidade de concentração, organização em grupo e até matemática podemos encontrar nesta actividade que apesar de tão comum e habitual é tão fundamental no desenvolvimento infantil.

Os jogos de encaixe são outra das grandes paixões das crianças da creche. Vamos lá encaixar as peças no local certo, é assim que começamos e rapidamente as vemos passar de uma fase meio perdida e até baralhada para outra onde apesar de não saberem o que é um triângulo, um quadrado ou um rectângulo os encaixam na perfeição, no sítio certo e sem hesitações.
Estes jogos, além de trabalharem a coordenação visuo-motora, a atenção e a memória, ajudam-nos também a perceber em que fase do desenvolvimento a criança se encontra.

O livro é outro dos nossos grandes aliados. Estimula a atenção e também a capacidade de imaginação, podendo ir mais além na sua missão e ajudar a criança a compreender os seus sentimentos e a resolver as suas frustrações.
Muitas vezes tão ou mais importante que pôr as crianças a fazerem trabalhos muito elaborados e que não lhes dão prazer é deixá-las brincar, descobrir e serem elas próprias a questionar-nos e a questionar-se a si mesmas, o porquê disto ou daquilo.

Numa sala de creche, muito mais importante do que os placards cheios de trabalhos para os pais verem, são os momentos que lá se passam, momentos de relação entre adultos e crianças e crianças entre elas, momentos de cumplicidade tais como um olhar, um aperto de mão, uma mão na cabeça ou simplesmente um choro compreendido, momentos lúdicos, de brincadeira, com respeito pelo espaço de cada um e onde as crianças se sintam seguras.

O brinquedo é sem dúvida, um forte aliado do crescimento infantil, não só por toda a variedade existente que pode ajudar a criança no seu desenvolvimento físico e motor, mas e principalmente por toda a sua potencialidade para um bom desenvolvimento afectivo, cognitivo e social da criança.

Não nos podemos esquecer que ser criança é poder fazer disparates, rir sem motivo e principalmente brincar, brincar, brincar muito, com muitos brinquedos que nos vão ajudar a crescer e principalmente a aprender.

http://www.coisasdecrianca.com/artigos/detalhe.php?idArtigo=145

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Terça-feira, 19.07.11

Modelo Montessori - Individualidade e liberdade



Palmira Simões

Mais do que uma pedagogia é uma filosofia de vida: consiste em dar à criança liberdade para se desenvolver naturalmente.

A partir do momento em que a criança desenvolve a sua capacidade de aprendizagem, “absorvendo” tudo o que a rodeia até por volta dos sete anos, está apta a enfrentar todos os desafios que vai encontrando ao longo da vida. Esta é uma das premissas deste método que não se esgota na Educação da Infância, pois como filosofia de vida que é, pode ser aplicado muito para além disso. Em Portugal há poucas escolas que o adoptam mas “Coisas de Criança” foi descobrir uma vivenda amarela numa rua de São Pedro de Estoril, onde 28 crianças entre os dois anos e meio e o os cinco, de várias nacionalidades, incluindo a portuguesa, se dividem por duas salas, falam apenas inglês e aprendem e brincam de pantufas calçadas e ao som de música ambiente. A atmosfera não podia ser mais acolhedora, familiar e multicultural. Um ambiente que, para além de ser agradável e bonito, está rodeado de materiais que as ajudam a desenvolver os sentidos, a leitura, a matemática, as ciências… preparando-as a vários níveis, do intelectual à vida prática do quotidiano. Sob a supervisão - e sobretudo orientação - das educadoras. “No fundo, a educadora está lá apenas para guiá-las, porque o que é preciso é olhar para cada criança individualmente, ver o que ela necessita e facultar-lhe isso mesmo, sem forçar nada”, explica Adélia Lopes, directora e fundadora da Boa Ventura Montessori Nursery School, que amavelmente nos abriu as portas e nos mostrou como tudo funciona.

A origem do método
Deve-se à investigação e entusiasmo de Maria Montessori (1870-1952), a primeira mulher a formar-se em Medicina em Itália, mas que acabou por se dedicar também à Educação, nomeadamente de crianças com deficiência, implantando um método muito inovador na forma de abordar os mais pequenos. Nascia o século XX quando criou a sua primeira escola em Roma, e o sucesso foi tal que alargou os seus ensinamentos primeiro a toda a Itália e depois a outras partes do Mundo, da Índia ao Quénia, da Austrália à Holanda, local onde acabou por morrer e onde hoje se encontra a sede. Os seus livros estão traduzidos nas mais diversas línguas, incluindo o Chinês e o Árabe.
O método Montessoriano tem por objectivo a educação da vontade e da atenção/concentração, com o qual a criança tem liberdade de escolher o material a ser utilizado, além de proporcionar a cooperação, estando os seus princípios fundamentais baseados no trabalho, na individualidade e na liberdade. A curiosidade natural e a sede de conhecimento da criança fazem o resto.

Os materiais didácticos
Foram estudados para desenvolverem uma série de aptidões, podem ser manuseados quer em cima de mesas ou no chão e dividem-se em três grandes grupos: exercícios para a Vida Prática (as primeiras actividades logo a partir dos dois anos e meio a três, para, e segundo palavras da própria Maria Montessori, “…ajudar a criança a tornar-se o adulto que vai ser”); materiais Sensoriais transversais a todas as idades; e os materiais Académicos que motivam nos mais velhinhos o interesse pela Leitura, pela Matemática e pela Geografia. À excepção dos materiais da Vida Prática (que usam coisas do dia-a-dia), os restantes são na sua generalidade constituídos por peças sólidas (a maioria de madeira natural) de diversos tamanhos e formas: caixas para abrir, fechar e encaixar; colecções de cores com vários gradientes; caixinhas de sons; cilindros com diferentes profundidades para encaixar; torres com blocos de múltiplos tamanhos para erguer do maior para o mais pequeno; barras ou ripas com vários comprimentos para pôr por ordem, da mais grossa à mais fina, da mais curta à mais comprida; outros permitem brincar com as temperaturas, os pesos, as texturas, os cheiros, as formas geométricas, os números e as letras… sem esquecer as mais diversas actividades de grupo, entre elas o jogo do Silêncio, que ajuda a desenvolver o autocontrolo.

Para saber mais sobre o método Montessori…
…baseia-se em anos de observação da natureza da criança e na sua necessidade vital que é a de aprender, fazendo. Em cada etapa do seu crescimento mental são proporcionadas actividades através das quais desenvolve as suas faculdades. Por outro lado tem um grande respeito pela personalidade da criança, concedendo-lhe espaço para crescer em liberdade;
…permite ao professor tratar cada criança individualmente em cada matéria e segundo as suas necessidades e ritmo;
…propõe-se desenvolver a totalidade da personalidade da criança e não somente as suas competências intelectuais. Preocupa-se também com as capacidades de iniciativa própria, de decisão e de escolha e com a componente emocional;
…não desenvolve o espírito de competitividade e a cada momento procura oferecer às crianças muitas oportunidades de interajuda;
…demonstrou ter uma aplicabilidade universal.

http://www.coisasdecrianca.com/artigos/detalhe.php?idArtigo=185

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Terça-feira, 12.07.11

Terapias expressivas

 


Por Dina Afonso Florêncio, Educadora de Infância, Formadora e Professora Universitária

A criatividade e a expressão artística são um benefício com o qual todos nascemos e que deve ser explorado

Desde tempos imemoráveis que o ser humano utiliza a arte como uma forma de expressão de conteúdos emocionais. Por vezes é muito mais fácil demonstrar os nossos sentimentos através de um desenho ou de uma dança do que falando e expondo-nos aos outros. Com as crianças tudo se passa da mesma forma, quando questionamos as crianças acerca deste ou daquele assunto, nem sempre elas têm vontade de partilhar connosco o que lhes vai na alma, mas no momento a seguir numa brincadeira na casinha ou no adereço escolhido no cantinho das trapalhadas, conseguimos de uma forma natural perceber tudo o que as preocupa, angustia ou até mesmo lhes dá prazer.
Não devemos “cortar” a criatividade de uma criança e quando ela brinca ao faz de conta, não deve nunca ser repreendida (porque não é assim que se faz), pois muitas vezes é no faz de conta que as crianças são elas próprias sem medos, sem receios de errar e sem que se criem expectativas à sua volta, por vezes tão difíceis de atingir.
Embora já há muito tempo haja um interesse crescente pela relação terapia e arte, foi somente a partir da década de 1930 que psiquiatras e outros terapeutas começaram a desenvolver importantes trabalhos com alguns pacientes (em especial pacientes com esquizofrenia) colocando a arte como uma forma criativa de auxiliar questões emocionais, resolução de conflitos, melhoria de auto-imagem, reestruturação emocional, minimização de traumas, superação de obstáculos, desenvolvimento de competências pessoais, treino de habilidades sociais, entre outras.
Com as crianças todos estes itens podem ser trabalhados, criando ambientes de liberdade expressiva com a ajuda de diversas técnicas artísticas, tais como dança, teatro, música, literatura, canto, artes plásticas e outras infinitas possibilidades criativas. No mundo das terapias expressivas não é a perfeição ou a obra artística que interessa, mas sim a actividade criadora, a imaginação, a criatividade e principalmente a emoção que se coloca nas diversas experiências.
Quando se trabalha com a dança, não se fazem coreografias, nem se preparam apresentações, dá-se sim a possibilidade à criança de dançar ao som de diversos estilos musicais que lhe proporcionem diversos sentimentos e ao mesmo tempo as façam libertar de todas as frustrações.
Todos nós fazemos a nossa própria terapia, mesmo que inconscientes; quando chegamos a casa cansados de uma semana agitada, quantas vezes colocamos uma música calma e nos deitamos no sofá a relaxar? E quantas outras vezes, igualmente cansados, colocamos uma música agitada e vamos para o meio da sala dançar? Tudo depende do nosso estado de espírito, das nossas emoções e principalmente de nós próprios e dos que nos rodeiam.
Através das terapias expressivas, podemos mostrar um lado de nós que nem nós próprios conhecemos, podemos libertar-nos e ser nós próprios, podemos contactar com o mundo do inconsciente e podemos essencialmente fazer com que as crianças com quem trabalhamos consigam sempre “pôr cá para fora” as tensões acumuladas e recalcadas.
Tão importante como aprender a ler ou a escrever é aprender a criar e a expressar as nossas emoções e sentimentos. Seja qual for a técnica utilizada, dançoterapia, psicodrama, arte terapia, ludoterapia ou musicoterapia, a expressão não é um espectáculo, mas apenas uma forma de contacto com o nosso inconsciente e com o que de mais profundo temos em nós. A verdade é que trabalhar com crianças é muito mais que transmitir-lhes saberes, pois é importante que saibamos matérias e conteúdos, mas mais importante ainda é que saibamos ser nós próprios, não temendo as falhas e sabendo lidar com as frustrações.
Mesmo no trabalho com crianças com necessidades educativas especiais é fundamental fazê-las sentirem-se capazes, pois a arte contribui muitas vezes para um aumento do desenvolvimento mental em pontos como: atenção, memória, raciocínio, curiosidade, observação, criatividade, entre outros.
Através de expressões artísticas podemos transmitir conteúdos como estes e outros mas de uma forma prazenteira, divertida e principalmente criativa e este processo não deve ser feito apenas com as crianças mas sim com as suas famílias, uma vez que as terapias expressivas em Educação de Infância devem sempre ser planeadas com uma intervenção contínua dos pais.
Assim sendo, e por exemplo se verificarmos que uma criança tem dificuldades de memória visual ou de temporalidade ou ainda de equilíbrio, recorrendo à dança tão apreciada no meio infantil como forma terapêutica podemos organizar uma sessão de dança educativa com danças de memória, de equilíbrio e ainda danças com marcação de ritmos diferenciados que a vão ajudar a superar estas dificuldades, mas de uma forma lúdica e ao mesmo tempo extremamente eficaz.
As propostas devem ser organizadas para que pais e filhos partilhem entre si momentos, momentos de prazer, de dor, de satisfação, de frustração, entre outros, mas sempre partilhados pelos que amamos e que nos amam. Num contexto real de trabalho, podemos planear sessões expressivas só com as crianças, só com os pais e sessões conjuntas entre pais e filhos onde juntos possam caminhar para um equilíbrio pessoal e familiar, ajudando-os a ultrapassar possíveis dificuldades.

Os benefícios das terapias expressivas na educação de infância são muitos, dos quais podemos destacar:
– Melhora a comunicação da criança consigo mesma e com o outro.
– Favorece a procura da autonomia e do equilíbrio de vida.
– Aumenta a espontaneidade e a criatividade da criança positivamente orientadas.
– Descarrega emoções recalcadas.
– Facilita a integração de crianças passivas e introvertidas.

Experimentar os benefícios das terapias expressivas, não é apenas criar uma obra de arte, tocar um instrumento ou movimentar o corpo, mas sim VIVENCIAR, em educação, o potencial e a força criativa que leva as crianças e os adultos ao auto-conhecimento, ao encontro do equilíbrio e à superação das suas dificuldades emocionais.

Saber mais em: www.vivenciarte.com

http://www.coisasdecrianca.com/artigos/detalhe.php?idArtigo=137

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Terça-feira, 05.07.11

Jogos que ajudam a aprender Matemática

 


Por Filomena Santos Silva, Psicóloga Educacional (www.psiinter.com) e professora na Escola Superior de Educadores de Infância Maria Ulrich

Todos sabemos que as crianças não ficam passivamente à espera de ter seis anos e um professor para aprender matemática; desde muito pequenas constroem os conceitos matemáticos a partir dos conhecimentos que já possuem, através das vivências do seu dia-a-dia, de experiências significativas que as conduzem a colocar hipóteses, a reflectir e a tirar conclusões

O jogo surge como um instrumento privilegiado na construção destes conceitos. Existem no mercado diversos materiais que foram concebidos com o objectivo de ajudar a criança a aceder à representação matemática; partindo da manipulação de material concreto, a criança tem oportunidade de explorar, compreender as relações em que se baseiam as actividades matemáticas e aceder à abstracção.
Outra das grandes vantagens é serem vivenciados pela criança como jogos, como actividades lúdicas, fontes de prazer. São recursos que os pais, os educadores e os professores têm à sua disposição e que, dado todo o seu potencial, devem ser encarados como um tesouro a que os mais pequenos devem ter acesso no seu processo de descoberta e aprendizagem da matemática.
Desses materiais, os mais divulgados são os Blocos Lógicos (aos quais Coisas de Criança já dedicou um artigo – nº 16, Fevereiro 2009), o Cuisenaire, o Calculador Multibásico, o Ábaco e o Geoplano.
Temos de ter presente a ideia de que os materiais favorecem mais a aprendizagem se derem resposta a objectivos educacionais concretos; cabe ao adulto organizar situações que potenciem a sua exploração e permitam o estabelecimento de relações.
Seja qual for o material, numa primeira abordagem a sua exploração deve ocorrer livremente, sem quaisquer instruções, para que a criança se familiarize com as suas propriedades, estrutura e organização. Só num segundo momento, o adulto deve questionar a criança e efectuar propostas de exploração que permitam atingir os objectivos estipulados.

ÁBACO
É um instrumento de cálculo, formado por uma moldura com um conjunto de arames paralelos dispostos no sentido horizontal ou vertical, correspondendo cada um a uma ordem: unidades, dezenas, centenas, unidades de milhar, dezenas de milhar, centena de milhar… Permite desenvolver o conceito de valor de posição de um número (unidade, dezena, centena…), facilitando a compreensão e a concretização das operações de adição e subtracção dos números naturais.
Com as crianças mais pequenas – ensino pré-escolar - o ábaco permite o acesso à representação de quantidades. Numa primeira fase a criança poderá compreender a noção de quantidade através da correspondência termo-a-termo entre o número de “bolas” que desloca da esquerda para a direita e o respectivo número que quer representar. No final do ensino pré-escolar e início do ensino básico é um instrumento óptimo para a criança compreender o valor posicional do qual depende o nosso sistema de numeração.
Imaginemos que as crianças pretendem representar a quantidade de lápis de cor que estão numa caixa: por cada lápis fazem deslocar uma bola da esquerda para a direita; quando chegam à quantidade 10, deslocam todas as bolas novamente para a esquerda e deslocam uma bola da segunda fila para a direita que representa 10 bolas da primeira fila. Recomeça-se a contar novamente na fila de cima e, mais uma vez, quando chegar a 10, avança-se mais uma bola na segunda fila, o que significa que já se contaram 20 lápis. Quando a segunda fila tiver 10 bolas, deslocam-se todas as bolas para a esquerda e coloca-se uma na terceira fila, das centenas, significando que já se contaram 100 lápis.
Para efectuar cálculos, o procedimento é semelhante, sendo mais fácil começar por usar dois ábacos: coloca-se o número de bolas respectivo a cada número em cada ábaco e depois junta-se as bolas em cada fila, da forma anteriormente descrita. São procedimentos lógicos e muito intuitivos que as crianças compreendem com facilidade.

CALCULADOR MULTIBÁSICO
É constituído por placas, com cinco orifícios cada uma, e peças de seis cores diferentes: amarelas, verdes, encarnadas, azuis, cor-de-rosa e lilás (das duas últimas cores apenas duas peças de cada). É similar ao ábaco, residindo a grande diferença no facto de neste se colocarem as peças sobrepostas, sendo estas amovíveis, o que facilita a visualização. As unidades colocam-se à direita e cada coluna da esquerda vale mais 10 vezes que a sua ordem imediatamente à direita.
Outra das vantagens do Calculador Multibásico é o acesso à representação das quantidades por algarismos, podendo a criança colocar em frente a cada coluna de peças o cartão com o algarismo que representa essa quantidade (o Ábaco vertical permite também este procedimento).
Inicialmente a criança pode apenas colocar as peças nos furos e representar a respectiva quantidade; poderá fazê-lo colocando à frente o respectivo algarismo ou pode-se sugerir que “copie” o desenho para uma folha. Poderá também efectuar cálculos, utilizando um procedimento semelhante ao do ábaco, começando por colocar as unidades no orifício mais à direita da placa.

GEOPLANO
Pode ser de vários tipos, sendo o mais comum o quadrado. É constituído por uma base onde se fixam “pregos”, a distâncias regulares, utilizando-se depois elásticos de cores para “desenhar”. Existem também Geoplanos com vários números de pregos, sendo os de 5x5 pregos os mais comuns no ensino pré-escolar.
É um recurso didáctico que permite desenvolver todo um conjunto de conceitos espaciais, permitindo o acesso à geometria através da manipulação; partindo do concreto, este material oferece um apoio à representação, levando à construção de conceitos abstractos. As crianças mais novas poderão trabalhar com as formas geométricas e com o conceito de simetria, podendo também desenhar de acordo com a sua criatividade (formas geométricas, casas, bonecos, a letra do seu nome, números…).
Numa segunda fase, as crianças poderão reproduzir a sua criação em papel (liso ou quadriculado), devendo existir junto ao Geoplano folhas de papel que contenham exactamente o mesmo número de pontos do que o Geoplano.
Outra estratégia para trabalhar com o Geoplano é fornecer modelos geométricos e de figuras que as crianças podem reproduzir com os elásticos de cores. Existem actualmente Geoplanos feitos em material transparente que permitem colocar a folha de papel com o modelo por baixo, facilitando assim o processo de reprodução do modelo em causa.
Todos estes materiais estão longe de se esgotar nestas propostas, sendo inclusive instrumentos muito adequados para desenvolver e aprofundar conceitos noutros graus de ensino. Por exemplo, pode usar-se o Calculador Multibásico para efectuar as quatro operações básicas ou o Geoplano para trabalhar áreas e perímetros. O importante é disponibilizar os materiais e proporcionar às crianças oportunidades para os utilizarem, facilitando o desenvolvimento de diversos conceitos matemáticos.

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Terça-feira, 28.06.11

Piaget e o Movimento da Escola Moderna

 


Texto: Maria Emília Brederode Santos

Durante anos pedagogos e professores esforçaram-se por extrair consequências pedagógicas das teorias psicológicas de Piaget. O estudo do desenvolvimento da criança levado a cabo por Piaget parecia tão importante! Que se poderia retirar dele para que as crianças aprendessem melhor?

Mas Piaget o que estudava era o desenvolvimento de todas as crianças, as invariantes desse desenvolvimento, que, em larga medida, seria endógeno, exigindo apenas qualquer contexto social… que “lições” tirar para a escola?
Podemos acelerar esse desenvolvimento?, interrogaram-se alguns, o que logo seria afastado por Piaget: Essa é bem a questão americana! Mas acelerar o desenvolvimento para quê? Os gatos desenvolvem-se mais depressa do que as crianças mas não é por isso que chegam mais longe… Alguns pretenderam “ensinar” às crianças os “testes” de Piaget ao que este contrapunha: Que absurdo! É como usar um termómetro para curar uma doença!
Para outros tratava-se de deixar a criança crescer e “maturar” espontaneamente mas este era um caminho que levava ao agravamento das desigualdades sociais e ao aniquilamento de qualquer educação.
Finalmente, no início dos anos 70, começou-se a delinear a seguinte hipótese: a Psicologia de Piaget «apenas» servia para se compreender melhor o desenvolvimento da criança, não para nela assentar uma pedagogia. Seria à Epistemologia de Piaget, à sua Teoria do Conhecimento, que seria possível fazer apelo para fundamentar cientificamente aquilo que já existia e era já conhecido como “métodos activos” e “Escola Moderna”.
Conceitos e perspectivas como o desenvolvimento e a aprendizagem profunda, os factores endógenos e exógenos desse desenvolvimento, o papel dos pares na evolução da heteronomia para a autonomia, os esquemas mentais através dos quais o ser humano vê a realidade, a construção e evolução desses esquemas mentais pelo jogo da assimilação e da acomodação, o erro visto como resistência da realidade aos esquemas mentais do sujeito e desencadeador da sua actividade mental, da transformação dos seus esquemas mentais e portanto das aprendizagens… permitiam fundamentar uma pedagogia que partisse do estado cognitivo em que a criança se encontrasse e nele construísse as aprendizagens.
O papel da educação seria, assim, o de proporcionar situações que interpelassem a criança, que suscitassem um desequilíbrio (uma «discrepância cognitiva») entre os seus esquemas mentais e a realidade, que constituíssem verdadeiros problemas (acessíveis à sua compreensão mas não resolúveis pelas respostas de que já dispusesse) e conduzissem a interrogações (a «verdadeiras perguntas»), à procura activa de respostas. O papel da educação, o papel do professor/educador, seria, depois, ir orientando a procura de resposta da criança através de perguntas que seguissem o seu raciocínio (e aí, sim, podendo-se inspirar no «método clínico» de Piaget) e dando-lhe «dicas» para a estimular. O papel da educação nesta perspectiva construtivista da aprendizagem seria, pois, usando uma metáfora apropriada, o de ir proporcionando «andaimes» para a criança ir construindo o seu saber.

Construção do saber
Uma outra dimensão já existente em certos estudos de Piaget mas depois muito mais trabalhada por alguns dos seus seguidores mais ligados à Psicologia Social é a dimensão social, a importância dos colegas, dos «pares», na construção do saber.
Willem Doise e Anne Nelly Perret Clermond, entre outros, mostraram como o trabalho autónomo e conjunto de crianças com níveis de desenvolvimento próximo (para se poderem compreender) mas diferente (para existir um “desequilíbrio” cognitivo) tinha efeitos positivos na aprendizagem não só da criança de nível mais baixo mas também da criança de nível superior.
Tratou-se de mais uma confirmação da justeza das intuições de Freinet e outros proponentes do Movimento da Escola Moderna, que defendem que “aprende-se fazendo” o «learning by doing» de John Dewey), sendo que o “fazer” não se limita à actividade física e, inclui, necessariamente a actividade mental. Para isso Freinet desenvolve um sistema organizado em torno de três dimensões: a sala de aula organizada de forma cooperativa; o trabalho de projecto como forma de adquirir e construir conhecimentos; a produção dos seus próprios instrumentos de trabalho pelo professor e pela turma (por exemplo, o jornal escolar ou a correspondência inter-escolas). Outros valiosos contributos de Freinet serão abordados a propósito de outros temas.
Em Portugal, os métodos da Escola Activa, especialmente as técnicas Freinet, foram experimentados pela equipa de Maria Amália Borges de Medeiros (que incluía pedagogas e professoras como Rosalina Tainha, Isabel Pereira e Ana Mª Bénard da Costa e psicólogas como Graça Barahona Fernandes), primeiro clandestinamente, depois no Centro Helen Keller, onde também, pela primeira vez em Portugal, se integraram crianças cegas e amblíopes em turmas de ensino regular.
Sérgio Niza, a partir da escola da A-da-Beja, foi aprofundando, dinamizando e organizando este trabalho, criando o Movimento da Escola Moderna (MEM), formalizado juridicamente em 1976, que se tornou, de então para cá, provavelmente, no principal movimento pedagógico em Portugal com um papel relevantíssimo, designadamente na formação contínua de professores. Educadores como Ana Maria Vieira de Almeida ou José Pacheco, nos ensinos privado e público, partindo desta base, foram abrindo os seus próprios caminhos.

Links úteis
Movimento da Escola Moderna:
www.movimentoescolamoderna.pt/
Sobre Jean Piaget: www.infopedia.pt/$jean-piaget

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Terça-feira, 21.06.11

Educação ambiental - Criar laços para o futuro



Por Dina Florêncio, Educadora de Infância

O Ambiente e a reciclagem têm sido temas muito abordados nos projectos pedagógicos das nossas instituições nos últimos anos, mas porquê? Será moda, ou de facto as consciências estão mais alertas para esta temática que é de facto fundamental?

O princípio 1 da declaração de Estocolmo escrito em 1972 diz-nos que: “O homem tem o direito à igualdade, à liberdade e a condições de vida satisfatórias, num ambiente cuja qualidade lhe permita viver com dignidade e bem – estar, cabendo-lhe o dever solene de proteger e melhorar o ambiente para as gerações vindouras.” As nossas crianças têm de facto um papel fundamental na preservação do ambiente e cabe-nos a nós Educadores, pais e professores levá-las a compreender a importância de uma correcta educação ambiental. Mais do que termos ecopontos nas instituições, mais do que fazermos brinquedos aproveitando material reciclado, mais do que ensinar-lhes que não se deve deitar lixo para o chão, devemos sim ser capazes de os fazer entender o porquê de todos estes hábitos.

A Educação Ambiental pode e deve começar muito cedo, quando ensinamos as cores às crianças podemos levá-las logo a conhecer os ecopontos e assim de uma forma lúdica fazê-las compreender a verdadeira finalidade dos mesmos. “Mas para onde vai todo este papel quando o ecoponto azul estiver cheio?” Esta é uma pergunta que muitas crianças do pré-escolar nos fazem, depois de há já um ano ou dois terem o hábito de colocar todo o papel naquele ecoponto, e é aqui que as nossas respostas e atitudes são fundamentais, pois é aqui que podemos e devemos explicar à criança que todo aquele “lixo” que andámos a acumular diariamente será recolhido e reaproveitado para a execução de novos materiais.

As crianças e os jovens, como cidadãos devem aprender a tomar decisões relativas ao ambiente e a estar conscientes relativamente à tomada de certas decisões políticas que podem ter consequências ambientais. Muitos colegas queixam-se às vezes de falta de verbas por parte das instituições para a execução de trabalhos, mas cabe-nos a nós adultos transmitir aos mais pequenos as potencialidades de materiais já usa¬dos, como as garrafas, o papel, as embalagens de plástico, entre outros. Sendo a escola um lugar privilegiado das aprendizagens, onde se devem adquirir valores e promover atitudes e comportamentos de cidadania, torna-se urgente uma intervenção eficaz, ao nível da Educação Ambiental.

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Terça-feira, 14.06.11

Maria Ulrich

 


Por Palmira Simões

O modelo de formação de professores, preconizado pela ESEI Maria Ulrich, assenta numa ideia de educador que ultrapassa o domínio das técnicas

A raiz da escola, a herança de Maria Ulrich – sua fundadora em 1954 – pretende, sempre, propor um projecto de vida em que cada estudante se desenvolva pessoal e profissionalmente.

Como Maria Ulrich escreveu: “A nossa escola nunca se propôs, nem se propõe, formar técnicas – como infelizmente, por exigência de quadros são denominadas, por vezes as nossas educadoras. Ela pretende acima de tudo formar valores humanos (…) a transmitir, antes de mais à infância, tão receptiva, sempre! Mas também para além destas, às suas famílias e a toda a sociedade.”

A actualidade desta proposta de transformação do mundo, pela educação em valores – património cultural e pedagógico desta escola – funda-se na formação pessoal, científica, artística e técnica, actualizada e rigorosa, em que o constante contacto com os terrenos e problemáticas da educação, permite aferir e adequar saberes às realidades sociais contemporâneas.

Maria Ulrich valorizou a autonomia e o jogo como meios de aprendizagem essenciais. Em função disto, como se pode definir um dia-tipo numa sala orientada por uma educadora formada pela “Maria Ulrich”? Ana Levy Aires* responde:
A definição desse dia-tipo tem de ter em conta o contexto de trabalho desse educador: Quem são “estas” crianças? Que modos de pensar, sentir e agir partilham as suas famílias? Quais as suas necessidades de desenvolvimento? E, não menos importante, o que sabem e gostam de fazer “estas” crianças?

A partir destes e outros dados iniciais, há que organizar, equilibradamente, tempos em que brincadeira e interacção com os pares sejam enriquecidas com a possibilidade de novas experiências facilitadas pelo educador que deve ir acompanhando pequenos projectos de grupo ou individu¬ais e aprofundando o seu conhecimento sobre o grupo e cada criança.

Este dia-tipo tem que contemplar uma diversidade de materiais, experiências e recursos (e o educador e a sua relação com as crianças é o primeiro recurso educativo!) que promovam descobertas, aprendizagens, o gosto pelo desafio, sentimentos de competência e uma cultura de grupo em que todas as crianças se sintam parte integrante.

O educador privilegia materiais pouco estruturados (como os recolhidos e/ou observados na natureza), ou seja, materiais que não dão respostas à partida, permitindo à criança construir, resolver problemas, perguntar, responder e voltar a perguntar… O educador acompanha, conversa, escreve, recoloca com as crianças as questões e as respostas. Facilita meios para a socialização e sedimentação da experiência e para a tomada de consciência das suas implicações.

O jogo como meio de aprendizagem
Ainda segundo Ana Levy Aires, hoje e cada vez mais, é preciso saber pensar, interpretar e agir no mundo com outros. Falar, ler, escrever, fazer contas, são ferramentas conceptuais importantes se alicerçarem e expandirem o gosto de pensar, comunicar e ser socialmente responsável. É preciso ter em conta que uma aprendizagem efectiva destas competências não se constrói de um dia para o outro. Em educação os pro¬cessos são tão ou mais importantes do que os resultados e, sendo assim, estes nunca são imediatistas.

Mas, por outro lado, cada dia na vida da criança é irrepetível e o educador não pode deixar o tempo escoar-se, va¬zio – sem referências e sem esperança de novas aprendizagens. Como tal revela-se necessário animar o gosto pela aprendizagem, pelas novas responsabilidades, actuando com reconhecimento e apreço pelas crianças e as suas culturas.

As culturas das crianças não são apenas o meio social e cultural em que vivem. Há especifidades das suas cultu¬ras, como a ludicidade, em que a criança não só imita como (re)cria realidades (materiais e sociais) que precisam de encontrar tempo, espaço, materiais (e educadores) capazes de as desenvolver e integrar no estilo de acção educativa que considerarem ser a resposta mais adequada à “circunstância” das crianças e também ao seu próprio projecto profissional.

* Ana Levy Aires, Educadora de Infância, mestre em Antropologia; presidente do Conselho
de Direcção da ESEI Maria Ulrich; investigadora do Centro de Estudos de Etnologia Portuguesa – FCSH/UNL

http://www.coisasdecrianca.com/artigos/detalhe.php?idArtigo=154

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Terça-feira, 07.06.11

Método João de Deus

 


Por Maria Filomena Caldeira, professora da ESE João de Deus e supervisora dos JE João de Deus

Na educação pré-escolar é importante não esquecer os elementos básicos para aprender a viver juntos: aprender a conhecer… aprender a fazer… e aprender a ser

Assume-se que o desenvolvimento da autonomia é o pilar fundamental no crescimento pessoal e social de cada criança e da sua inter-relação com os outros, de forma a serem capazes de enfrentarem quer os desafios do momento, quer todos aqueles que se lhes deparem numa sociedade em constante mudança.

Nos Jardins-Escolas João de Deus, entre as várias actividades vivenciadas, usam-se os materiais didácticos como um recurso a ser utilizado num processo que combina aprendizagem e formação. O educador é o elemento-chave na mudança, porque tem um papel primordial no ambiente que se vivencia na sala de aula. Ele serve-se dos materiais, como instrumentos, para motivar as actividades que se pretendem ricas e estimulantes, num processo de manipulação – acção e posteriormente da representação – conceptualização.

Os materiais didácticos são instrumentos para a aprendizagem, um meio através do qual a criança interage com o mundo exterior, com os adultos e com as outras crianças. O material ao ser observado, manipulado e explorado provoca o desenvolvimento e formação de determinadas capacidades, atitudes e destrezas, possibilita experiências e situações para aquela interacção e para que na primeira percepção a criança realize uma representação e em última instância chegue à conceptualização.

O método de leitura e escrita João de Deus apresenta as dificuldades da língua de uma forma gradual, numa progressão pedagógica que constitui um verdadeiro estudo da língua portuguesa. Assim, verificamos que desde a primeira lição a criança é convidada e estimulada a ser “analista da linguagem”, tendo um papel activo na descoberta de que a posição da letra na palavra determina o seu valor sonoro.

O método utiliza estratégias de leitura do tipo “bottom-up”, em sinergia com estratégias do tipo “top-down”, baseado na unidade global da palavra – considerando-a como a ferramenta linguística que permite o dinamismo verbal. A criança é levada a entrar num jogo, do qual vai aprendendo regras e vai evoluindo de uma forma construtiva. O processo inicia-se com a visão das letras, seguindo-se os sons correspondentes, a leitura de palavras e a pronunciação destas como entidades globais com significado próprio.

Este método acentua o aspecto da compreensão, salienta as funções da memória, da atenção e do processamento mental da informação durante a leitura. O objectivo dos Jardins-Escolas não se centra somente em ensinar o conhecimento feito e totalmente elaborado, pretende também capacitar o aluno, por meio de uma aprendizagem eficaz, de capacidades para poder ser um cidadão consciente, responsável e crítico.

A sua história

A Associação de Jardins-Escolas João de Deus foi fundada pelo mecenas Casimiro Freire, em 1882, sob o nome de Associação de Escolas Móveis pelo Método João de Deus. É uma Instituição Particular de Solidariedade Social – IPSS, dedicada à Educação e à Cultura. Em 1908, por proposta de João de Deus Ramos, filho do Poeta – Educador, passou a designar-se “Associação de Escolas Móveis pelo Método João de Deus, Bibliotecas Ambulantes e Jardins-Escolas”. Sentindo a necessidade de dar carácter mais amplo e perdurável à obra, funda em Coimbra, em 1911, o primeiro Jardim-Escola João de Deus.

Até 1953, data do seu falecimento, criou 11 Jardins-Escolas. Em 1920 iniciou-se o primeiro ano de formação de Educadores de Infância, mas só em 1943 seria fundado, com carácter sistemático, o primeiro Curso da Didáctica Pré-Primária. Em 1988, a Escola Superior de Educação João de Deus, passa a ministrar os Cursos de Educadores de Infância e de Professores do Ensino Básico (1º Ciclo). Presentemente, a Associação de Jardins-Escolas e a Escola Superior de Educação João de Deus têm ao seu serviço 973 pessoas, cuja actividade se reparte pela ESE e por 36 Jardins-Escolas, distribuídos pelo país.

Tem também um projecto pioneiro de duas Ludotecas itinerantes que estão a proporcionar actividades diárias de tempos livres a crianças e jovens de idades compreendidas entre os 3 e os 12 anos, oriundos de comunidades em situação de exclusão. Promover o direito a brincar, estimular a iniciativa e a criatividade, desenvolver competências e conhecimentos através do jogo, estimular os participantes para o prazer da leitura, acompanhar e colaborar na execução de tarefas escolares, favorecer um trabalho de interacção com as escolas da comunidade e outras instituições, despertar o espírito de tolerância e liderança desenvolvendo valores e atitudes, são alguns dos objectivos do projecto João de Deus.

http://www.coisasdecrianca.com/artigos/detalhe.php?idArtigo=155

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Terça-feira, 31.05.11

A primeira “escolinha”

 


Por Maria Emília Brederode Santos *

O Jardim-de-Infância tende a ser, cada vez mais, a primeira escolinha de uma criança. Só por isso a sua importância é enorme - os primeiros contactos são geralmente marcantes

A atitude para com o aprender, por exemplo, será certamente muito condicionada pela forma como a educadora de infância for capaz de reconhecer o que a criança já sabe e de organizar novas aprendizagens estimulantes e agradáveis. Mas a importância do jardim-de-infância é enorme também pelo que lá se pode e deve aprender.

A criança dos três aos cinco anos é uma esponja que tudo absorve com imensa facilidade e rapidez. Mas é também um ser frágil e vulnerável às influências dos outros. Se um adulto significativo a amar, confiar nela, lhe souber transmitir confiança e expectativas elevadas, a criança cresce e desabrocha. Se, pelo contrário, a criança viver num ambiente desatento, com poucos estímulos ou comportamentos agressivos, ela tenderá a fechar-se, a defender-se, a secar.

É no jardim-de-infância que a criança lida, frequentemente pela primeira vez, com crianças e adultos que não são da sua família e com que tem de aprender a estabelecer relações, a seduzir, a cativar. É no jardim-de-infância que a criança vai ter de aprender a partilhar com os outros o que é seu, a respeitar o que é de todos e a obedecer às primeiras regras. Como é no jardim-de-infância que adquire (ou consolida) hábitos de higiene, boas maneiras à mesa, ou a precaver-se de perigos.

Um bom jardim-de-infância procurará promover estas aprendizagens – mas outras também: criará condições para a criança desenvolver as suas capacidades de expressão – através da pintura, do jogo de faz-de-conta, das danças ou das canções; interessá-la-á pelo mundo dos sentidos e da experimentação ou da imaginação e das histórias; ajudá-la-á nas suas primeiras aprendizagens formais: a assinar um desenho, a cantar o alfabeto ou os números, a identificar e construir rimas…

Há escolinhas que acentuam mais umas aprendizagens do que outras, conforme as suas ins-pirações teóricas, a sua concepção da infância e da aprendizagem. Por vezes referem o nome de um pedagogo e fica-se com uma ideia da sua orientação pedagógica: há escolas Montessori, High Scope, João de Deus, Waldorf...

Numa escola Montessori, em princípio, procura-se que a criança assuma responsabilidades na vida quotidiana e se vá tornando cada vez mais autónoma. Procura-se que adquira capacidades de concentração, autodisciplina e ordem. Os materiais são muito importantes e são introduzidos para servir as necessidades de aprendizagem de cada criança.

Uma escola High Scope é de inspiração muito mais recente e organiza os espaços e os materiais de forma a promover aprendizagens activas. Este é também o objectivo dos jardins-de-infância do Movimento da Escola Moderna que promovem a autonomia das crianças relativamente às aprendizagens e às relações sociais.

Uma escola Waldorf acentua a ligação à natureza, utiliza materiais extremamente simples e procura desenvolver na criança, acima de tudo, a sua criatividade e fantasia.

Um jardim-escola João de Deus proporciona um ambiente seguro, aprendizagens estruturadas e mais formais. Em traços muito genéricos e um pouco simplistas, estas seriam as características mais diferenciadoras destes jardins-de-infância. Mas reconheçamo-lo: a maioria dos jardins-de-infância apresentam traços mistos e a sua orientação de facto depende mais de cada educador e da direcção do que de uma opção teórica.
Por isso, para escolher a primeira escolinha dos nossos filhos há que marcar visitas, conversar e observar com atenção.

* Membro do Conselho Nacional da Educação (onde coordena a 4ª Comissão Especializada
Permanente sobre Educação e Formação ao Longo da Vida) e directora da Revista Noesis.
Foi directora pedagógica do programa televisivo e da revista “Rua Sésamo”, co-autora da série “Jardim da Celeste” para o pré-escolar e Presidente do Instituto de Inovação Educacional entre 1997 e 2002.

http://www.coisasdecrianca.com/artigos/detalhe.php?idArtigo=175

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Terça-feira, 24.05.11

A mentira na criança

 


Por Filomena Santos Silva, Psicóloga

Quando uma criança diz uma mentira será que nos devemos preocupar? Por que será que ela mentiu? Como reagir quando a criança mente?

Normalmente, a criança recorre à mentira em duas circunstâncias diferentes: ou porque quer fugir à possibilidade de ser punida por alguma acção menos correcta ou porque usa a mentira como forma de vivenciar um acontecimento que gostaria que se tornasse realidade. Em qualquer dos casos, a criança está a usar o seu jogo simbólico e a sua capacidade de imaginação, revelando-nos as suas capacidades intelectuais.

Como pais e educadores, sabemos que a fantasia é importante para o desenvolvimento da criança e devemos estimulá-la de modo saudável. Contudo, é fundamental aproveitar estas situações para optimizar o desenvolvimento moral das crianças, incutindo-lhes a noção de responsabilidade e mostrando-lhes o que é real e o que é fantasia.

Como perceber se a criança está a dizer a verdade? As crianças pequenas “falam” muito com o corpo; enquanto a criança lhe relata o acontecimento, esteja atento aos seus gestos e expressões, nomeadamente expressões faciais. Frequentemente desviam o olhar, cerram a boca ou pressionam a língua contra a parte interna da bochecha, numa tentativa de se controlarem.

Se tem dúvidas em relação ao relato, peça para contar a história umas horas depois, procurando colocar as questões de outra forma, acabando frequentemente a criança por entrar em contradição.

Como lidar com a situação

É fundamental manter a calma, não dando demasiada importância a um comportamento que faz parte do desenvolvimento natural da criança: se a criança sente que o adulto fica muito ansioso e lhe dá demasiada atenção, poderá voltar a usar a mentira como forma de obter benefícios secundários (mesmo que seja para se zangar, o adulto irá dar atenção à criança).

Converse com ela, explicando-lhe que não assumir um erro ou culpar outros por uma acção cometida é muito mais grave do que desfazer uma mentira e que não se zangará com ela se ela assumir a responsabilidade. Por vezes basta dizer que sabe que foi uma brincadeira, mas que às vezes as consequências não são agradáveis.

Nunca permita que a criança obtenha benefícios pelo facto de ter mentido; ajude a criança a ser responsável, fazendo alguma acção no sentido de repor a situação (limpar o que sujou, ajudar a colar o que partiu, dar uma moeda para comprar um objecto novo, não comer a guloseima…, se a mentira envolver terceiros ajude a criança a falar com essa pessoa, mas não substitua a criança).

Procure sempre centrar o seu discurso no comportamento e não na personalidade da criança. A ideia a transmitir é que a criança disse uma mentira mas que o adulto sabe que ela sabe dizer a verdade; se o adulto diz que a criança é mentirosa, correrá o risco de ela se assumir como tal.

Analise com a criança as consequências de dizer verdades ou de ocultá-las. Leve a criança a pensar em estratégias alternativas que poderá utilizar da próxima vez que surgir uma situação análoga, sem ter de recorrer à mentira.

Dizer a verdade: uma aprendizagem progressiva
A nossa postura enquanto adultos perante pequenas situações do dia-a-dia irá ter grande influência na forma como educamos as nossas crianças no sentido em que deverão tornar-se adultos responsáveis pelas suas acções.
O problema é quando mentir se torna um hábito; os pais devem preocupar-se quando o seu filho tiver o objectivo claro de fugir sistematicamente à realidade e não enfrentar determinadas situações. Nessa altura, deverão, em primeiro lugar analisar como cada um dos pais lida com a mentira; é que, em muitos casos, a criança mente porque percebeu que em casa os pais a usam para fugir a determinadas situações (por exemplo, desculpabilizar os trabalhos de casa do irmão mais velho ou arranjar uma desculpa para faltar a um compromisso). Mas, também nesses casos, poderemos todos reflectir e ensinar às crianças que “a mentira tem a perna curta”.


http://www.coisasdecrianca.com/artigos/detalhe.php?idArtigo=183

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