Os livros e a criança


Por Palmira Simões

Devem ler-se histórias aos bebés logo que nascem e facultar-lhes livros para a mão o mais cedo possível. Desse contacto, importantíssimo para o seu desenvolvimento, nascerá uma relação para a vida

O livro em idades precoces tem uma grande importância na vida da criança. “Antes de ser um livro começa por ser um objecto de transição de afecto. Quanto mais pequena for a criança, mais o livro é um objecto, que tem uma característica particular de permitir a mediação de afecto entre a criança e o adulto e também entre a criança e o mundo”, explica Dora Batalim, professora de Literatura Infantil na Escola Superior de Educadores de Infância Maria Ulrich.

Os primeiros livros – geralmente de conceitos, de objectos e acções do quotidiano da criança - são uma espécie de ponte para que ela entre no mundo. No entanto, na opinião desta especialista, é fundamental que haja a mediação do adulto para que este active o conteúdo que um livro encerra, de modo a não ser visto como um mero brinquedo. “É, pois, um objecto que permite uma partilha muito grande no relacionamento entre a criança e o adulto, que pode servir de ponto de partida para grandes conversas entre ambos e estabelecer um relação para além do livro mas a partir do mesmo”, reforça.

Depois vêm as histórias, as narrativas, a ficção, que se revelam igualmente preponderantes para o desenvolvimento dos mais pequenos, mesmo enquanto bebés. É nas idades precoces, mesmo antes de se saber ler, que se ganha o gosto pela leitura, e a maior motivação possível para que isto seja uma realidade é oferecer livros à criança, acompanhá-la na sua “leitura”, deixar que os folheie, que perceba a diferença entre as letras e as imagens, que comece a associar os sons, etc. “Se a criança tiver tido livros que lhe deram prazer escutar ao serem lidos por um adulto vai com certeza ter vontade de aprender a ler e a gostar de ler sozinha os livros que mais lhe agradam”, desenvolve Dora Batalim.

A questão da imagem

A linguagem preferencial para uma criança antes da aprendizagem formal da leitura na escola tem que ver com a ilustração e com aquilo que a criança lê nas imagens. Os livros para crianças têm dois veículos de leitura: um texto verbal, das letras, e o outro visual. A criança não é apenas receptora daquilo que o adulto lhe lê a partir do texto verbal; ela está em sintonia com as imagens, das quais descodifica informação.

No entanto, esta especialista defende que devem ser contadas às crianças muitas histórias sem qualquer livro. Fazer um pouco como no tempo dos nossos antepassados, que sentavam a criança no colo na “hora do conto”. Isto ajuda a criança a criar internamente as suas próprias imagens em relação ao que está a ouvir.

Como escolher um livro

A professora Dora Batalim aconselha, para as idades mais precoces, os seguintes cuidados na hora de escolher um livro. No entanto, ressalva que é importante o adulto gostar de ler, e de preferência que conheça bem a literatura infantil, lembrando que esta também dá prazer ao adulto. Se assim não for, certamente não será prazenteira para a criança.

- É necessário ter tempo para fazer essa escolha, para folhear o livro e perceber como ele funciona; é preferível que esta tarefa seja feita em conjunto com a criança. Há que deixar que ela o manuseie, deixando-a optar por aquele que mais lhe agradar. É meio caminho andado para que se afeiçoe ao livro.

- Livros com uma estrutura mais complexa em termos linguísticos devem ter uma história simples. Mas deve-se ter em atenção a linguagem (é fundamental que tenha palavras novas para aumentar o vocabulário da criança) e o ritmo da mesma. Não se pode perder de vista que é para ser lido em voz alta.

- Para bebés, quanto mais parecidos forem com os livros reais melhor, pelo que devem evitar-se os que se assemelham a um brinquedo. Devem ser-lhes dados para as mãos livros de conceitos, com imagens muito contrastadas e claras.

- Nunca deixar de ler aos pequeninos rimas, lengalengas e contos tradicionais. Mesmo a bebés.

- Do ponto de vista da literatura, há que procurar histórias bem construídas, no sentido da descoberta, sejam elas de índole poética ou narrativa. O importante é que essa história alargue o mundo imaginativo da criança.

- Optar por livros que tenham boas ilustrações. Durante a primeira infância estas são o veículo linguístico das crianças.

- Recorrer a bibliotecas não só como um lugar para ir mas também como um lugar de conselho.

Uma ajuda da Internet: consulte estes sites

Livros recomendados pelo Plano Nacional de Leitura para jardim-de-infância destinados a ler em voz alta /contar/trabalhar na sala de aula:
www.planonacionaldeleitura.gov.pt/upload/obras_recomendadas/obrasrecomendadas_preescolar.pdf (para download)

Livros recomendados pelo Plano Nacional de Leitura para jardim-de-infância destinados a leitura com apoio do professor ou dos pais:

www.planonacionaldeleitura.gov.pt/upload/obras_recomendadas/or_fam_preescolar.pdf (para download)

Para outras informações, orientações, notícias, etc.:
www.planonacionaldeleitura.gov.pt/

Recomendações de livros e respectivas sinopses, num site com a chancela Fundação Calouste Gulbenkian:
www.casadaleitura.org/

Direcção-geral do Livro e das Bibliotecas
www.dglb.pt/pls/diplb/!main_page?levelid=1


http://www.coisasdecrianca.com/artigos/detalhe.php?idArtigo=177

publicado por salinhadossonhos às 08:24 link do post | comentar | favorito