Terça-feira, 27.12.11

Educação para Totós - Eduardo Sá


Educação para Totós - Eduardo Sá

"Muitos pais enfeitiçam as crianças, tornando-as sapos, quando as transformam no seu precioso espelho mágico, ficando totós uns para os outros.

1. Nas histórias para as crianças há, regra geral, uma princesa adormecida (de preferência formosa) e um cavaleiro apaixonado que se propõe despertá-la, com um fogoso beijo nos lábios. É verdade que poucos pais consideram que esta tendência obstinada de um transeunte, cheio de amor-próprio, para incomodar (com beijoquices) o eterno descanso da princesa seja um mau exemplo para as crianças. E é verdade, também, que se fosse um filho nosso a beijar (mesmo por distracção) um sapo com quem se tivesse cruzado, em vez de despontar – de tão fortuita fortuna - um príncipe teríamos lá em casa uma zaragata à italiana. Por outras palavras: não há quem entenda a forma imprudente como os adultos põem aos beijos as personagens das histórias para as crianças…
Mas – pior ainda – o que me preocupa é que nessas histórias há sempre uma pessoa que dorme e outra que a desperta. E isto já é publicidade enganosa. Porque – todos sabemos – duas pessoas acordam sempre que aquilo que as liga as desperta, uma à outra, ao mesmo tempo. Aliás, eu acho que, com as crianças, se passa, sensivelmente, ao contrário do que sucede às princesas e aos sapos: elas estão despertíssimas mas, mais beijo menos beijo, há sempre alguém que não descansa enquanto não as adormece, por dentro, e as transforma em totós. (Se pensava que o lado enganador das histórias para as crianças passava pela forma como elas falam, por exemplo, de fadas – como se fosse possível encontrá-las numa qualquer repartição – ou pelo engenho com que põem uns pares de renas e o Pai Natal às voltas pelo ar, está muito enganado…).
2. Histórias à parte, são muitas as circunstâncias em que os pais acumulam muitos créditos com os quais tornam as suas crianças um bocadinho adormecidas. Ou, se preferirem, um tudo-nada… totós. Daí que, para acabarmos, de vez, com esta tentação de transformarmos crianças despertas em totós adormecidos devemos dizer que:
- as crianças estão autorizadas a sujar-se. As crianças que não se sujam não são uns anjos: ainda não descobriram que serão pessoas melhores sempre que forem pequenos índios com coração e com maneiras;
- as crianças devem brincar, também, na rua. Sempre que só sentem a cidade através dos vidros do carro dos pais deixam de ser crianças: ficam macambúzias;
- as crianças precisam de descobrir o tempo livre. Quando têm uma agenda e nunca mandam nos seus minutos – pelo menos quando brincam – não são crianças. São burocratas de mochila;
- as crianças têm o «direito constitucional» de andarem de cabeça no ar. Sempre que alguém as quiser certinhas e crescidas ficam rezingonas. E só quando forem pais, com um sentimento que viveram adormecidos, é que irão perceber que só aprende quem põe ao leme, para sempre, a vontade de rir;
- as crianças têm o dever de crescer com a ajuda de algumas trapalhices, porque só as crianças trapalhonas sabem que o brincar é a melhor escola de todos os imprevistos;
- as crianças estão autorizadas a cair. Nunca caindo não aprendem a cair;
- as crianças devem lutar, várias vezes por semana. Primeiro, com almofadas, com os irmãos. Depois, no chão da sala, com o pai. E, a seguir, com os amigos, fora de casa. Se nunca lutam podem, até, parecer exemplares. Mas não são crianças: tornam-se «xoninhas»;
- as crianças têm o direito a não ser falsamente elogiadas. Sempre que as elogiam, como se fossem tolas, viram sapos. Podem até ser belas. Mas tornam-se adormecidas.
3. Nas histórias para as crianças há, regra geral, uma princesa adormecida (de preferência formosa) e um cavaleiro apaixonado que se propõe despertá-la, com um fogoso beijo nos lábios. Mas, na verdade, quem estraga as histórias das princesas adormecidas não são nem os dragões nem as maçãs envenenadas. Nem o riso sarcástico das bruxas. Nem, muito menos, o lobo mau, o capitão Gancho ou a Maga Patalógica São mais os espelhos mágicos. E, pior, muitos pais enfeitiçam as crianças, tornando-as sapos, quando as transformam no seu precioso espelho mágico, ficando totós uns para os outros. E, mais beijo menos beijo, esquecem que, ao contrário das histórias, as pessoas só acordam sempre que despertam, umas para as outras, ao mesmo tempo."
Escrito por Eduardo Sá
publicado por salinhadossonhos às 08:35 link do post | comentar | favorito
Sábado, 24.12.11

A todos um bom Natal

publicado por salinhadossonhos às 16:19 link do post | comentar | favorito
Sexta-feira, 23.12.11

PARABENS LEONOR SOARES

A Leonor faz anos

É um dia diferente

Os amigos fizeram um desenho

Para ela ficar contente!

Aqui na sala
a festa é a valer
está tudo preparado
para o bolo comer…

Trouxeste um lindo bolo
que darás a toda a gente
é o teu aniversário
por isso… estás contente!

Hoje fazes 6 anos
as velas vais apagar
e os teus amiguinhos
parabéns te irão cantar!

 

Adaptado de um poema do livro:

No Jardim de Infância

publicado por salinhadossonhos às 01:46 link do post | comentar | favorito
Terça-feira, 20.12.11

A nossa pátria são todas as crianças.

Por Eduardo Sá

 

Todas as crianças têm o direito a ser crianças. E têm o direito a crescer livres, mas com regras, num país amigo das crianças.

Todas as crianças têm o direito a um país cuja Lei do Trabalho preveja que as consultas de obstetrícia sejam, também, uma obrigação de todos os homens à espera dum bebé. Onde as crianças não tenham de sair cedo demais de casa. E onde os berçários e os jardins-de-infância sejam, tendencialmente, gratuitos e para todos, sendo reconhecidos como uma condição essencial para que a educação seja melhor, mais plural e mais bonita.

Todas as crianças têm direito a uma escola que as eduque, antes de instruir. Onde não passem tempo demais, todos os dias. Em que as aulas não sejam tão grandes como têm sido e se poupe nos trabalhos de casa. E em que os recreios sejam maiores em tempo e melhores nas condições de segurança e nos recursos que põem ao dispor de todas as crianças.

Todas as crianças têm, também, direito a livros escolares gratuitos, para todo o ensino obrigatório, que sejam, idealmente, propriedade de cada escola, sendo as crianças obrigadas a acarinhá-los, todos os dias, porque só quando o conhecimento passa de uns para outros, e se trata com cuidado, nos torna sábios.

Numa escola amiga das crianças os professores contam histórias e acarinham, quando ensinam. E haverá, por isso, um quadro de honra para todos os alunos faladores. Porque uma escola que não fala e não escuta vive assustada e fechada sobre si. E, se for assim, educa mal. E não é escola.

Numa escola amiga das crianças todas elas estão obrigadas a ser agressivas. Com maneiras. E a ser leais, umas com as outras. Numa escola amiga das crianças as que fazem queixinhas, a torto e a direito, os alunos exemplares, os alunos solitários e mal-educados, os alunos violentos, e aqueles que repetem mas não pensam são crianças cujos pais têm necessidades educativas especiais. Devem, portanto, ser ajudados. Mas se, teimosamente, não quiserem perceber os perigos com que magoam os filhos, talvez não merecem ser pais.

Num país amigo das crianças, todas elas têm direito a tempo livre. Sem a tutela permanente dos seus pais. E sem ateliês onde façam os trabalhos de casa, onde vejam televisão e onde tenham de estar quietas e caladas. Aliás, num país assim, todas as crianças terão direito a conversar. Porque só quando se pensa com os outros, conversando com os botões e em voz alta, ao mesmo tempo, se aprende a crescer.

Num país amigo delas, todas as crianças têm direito a brincar. Todos os dias, sem direito a férias, pontes ou feriados. E a brincar com um dos pais, 30 minutos, de segunda a domingo. Têm, também, o direito a ser filhas únicas dos seus pais, uma vez por semana, por um bocadinho. E a ter os pais, ao jantar e depois dele, sem telemóveis e sem televisão, só para a família.

Num país amigo das crianças, todos os pais que achem os filhos sobredotados, devem ficar, de vez em quando, de castigo. Porque (sem quererem, certamente) não percebem que todas as crianças (mas todas, mesmo) têm uma ou outra necessidade educativa especial. E que, pior que não a corrigir, é disfarçá-la com tudo aquilo que, supostamente, se faz bem. E não percebem, também, que as crianças que eles acham normais, só parecem mais adormecidas porque as pequenas maldades e os desamparos, a zanga sem fim e a tristeza dos pais, quase todos os dias, lhes traz (ao coração e à cabeça) um ruído de fundo que atrapalha o pensamento. Para além disso, todos os pais que - mesmo dizendo «posso estar enganado...» - acham que os seus filhos têm uma personalidade muito forte, devem ficar de castigo duas vezes, porque baralham a convicção, que vem de dentro, com a teimosia que faz «braços de ferro», por tudo e por nada com quem está fora. Mas, se por infelicidade, os pais insistirem em ser simplesmente, bonzinhos e prestadores de serviços (em vez de pais) estão poupados a todos os castigos, porque não há nada que doa mais que um principezinho que se transforma num pequeno ditador e, de imposição em imposição, chega à adolescência como grande tirano.

 

Num país com futuro, todas as crianças têm direito a uma família. E, por isso, não podem estar confiadas a centros de acolhimento tanto tempo como tantas estão. E têm o direito a uma Justiça amiga das crianças, que obrigue a segurança social a ser mais despachada e eficaz, sempre que se trate de as proteger. E se, porventura, houver quem queira transformar um Tribunal num tutor de pais zangados e desavindos, que nunca põe os interesses dos filhos em primeiro lugar, num país amigo das crianças eles serão advertidos e castigados, porque não merecem ser pais. Simplesmente, porque todas as crianças têm direito ao direito e ao afecto (que, de braço dado e como quem tagarela muitas vezes) tornam o mundo mais clarividente e mais sensato.

Todas as crianças merecem um país amigo das crianças. E, sobre tudo o resto, é-lhes devido o direito a ser crianças. Dos 0 aos 18, fazendo as contas pelos mínimos. E têm o direito a ter pais. Daqueles que, sempre que desligam o «piloto automático» com que educam e dão colo, ligam uma espécie de atrapalhador com que dizem (gritando, já se vê): «A partir de hoje!....» muitas vezes. E têm, ainda, o direito a pais de coração grande e de cabeça quente. Daqueles que fazem, pelo menos, uma asneira, todos os dias sem a qual ninguém se torna amigo das crianças. E, muito menos, mãe ou pai.

E merecem, ainda, o direito a admirar os pais e os avós. Porque só quem admira se torna humilde. E só quem conhece a sua história, e se orgulha dela, conquista o direito a ter futuro.

Todas as crianças têm, finalmente, o direito a ingonhar engonhar, a destrambulhar destrambelhar, a azucrinar e a chinfrinar. Têm direito a ter uma ou outra macacoa. E a ser, até, estrambólicas e escaganifobéticas. Que são formas complicadas de falar da salvaguarda do direito de quem se engasga e de quem se engana, de quem exagera e se atrapalha, e de quem erra. Que só é possível quando se tem pais e avós, e muitos tios ligados nelas. Que, todos juntos, façam com que, venha de onde vier, cada criança nunca se perca no caminho para casa.

Todas as crianças têm o direito a um país amigo das crianças. Onde todas as pessoas, nem que seja aos bocadinhos, sejam atentas, serenas e sábias, bondosas e firmes para com elas. Um país onde todas as crianças se sintam filhas dos pais e sobrinhas de todos. Um país que não as idolatre nem endeuse, mas que as ame, simplesmente (que é tudo aquilo que quem repete que «o melhor do mundo são as crianças», raramente, lhes dá). Porque, afinal, a nossa pátria são todas as crianças.

 

http://www.paisefilhos.pt/index.php/opiniao/eduardo-sa/4216-a-nossa-patria-sao-todas-as-criancas

publicado por salinhadossonhos às 18:50 link do post | comentar | ver comentários (1) | favorito
Sexta-feira, 16.12.11

Natal na nossa sala

Decoramos a nossa sala nesta quadra natalicia:

 

 

 

 

publicado por salinhadossonhos às 16:57 link do post | comentar | favorito
Terça-feira, 13.12.11

Eduardo Sá: “Estamos a espatifar a infância das crianças”

 

Disse um dia que as crianças estão em vias de extinção…

Estão. Não digo isso pelo facto de o Governo e a oposição as terem transformado numa espécie de conta poupança reforma. Acho até divertido que se fale de tudo e mais alguma coisa nas várias campanhas – presidenciais incluídas – e as questões das crianças e a política de fundo para a família nem sequer exista. Portanto, o que é que a mim me preocupa? Preocupa-me esta ideia complemente absurda de crescimento, que dá a entender que as crianças têm que ser jovens tecnocratas de fraldas antes dos seis, têm que ser jovens tecnocratas de mochila depois dos seis e têm que ser jovens tecnocratas de sucesso ao entrarem na universidade para que, finalmente – como se fosse uma linha de montagem –, saíssem todos mestres. Mestre é a designação mais vergonhosa que eu já vi para um título académico, porque é um título que reconhecemos aos sábios.

Andamos a enganar os jovens?

Isto é o cúmulo da publicidade enganosa. Explicar a miúdos com 22 e 23 anos que são mestres, de maneira a esperar que eles sejam, de preferência, ídolos antes dos 30… Anda toda a gente num registo eufórico e doente, que não percebe que as pessoas precisam de tempo para crescer. Acho engraçadíssimo quando dizem com orgulho que no jardim-de-infância há crianças que já sabem ler e escrever, mas não é isso que as torna mais sábias. Às vezes, as pessoas confundem macacos de imitação com crianças sábias. Acho engraçadíssimo quando as crianças não podem errar – eu julgava que errar era aprender. Mas não: as crianças têm que ter notas que são insufladas sabe Deus pelo quê. Vivem empanturradas em explicações. Se os pais puderem utilizar todo o tempo que a escola coloca ao serviço das famílias, elas podem passar 55 horas por semana na escola… Estamos a espatifar a infância das crianças, a espatifar a adolescência e, depois, com um olhar absolutamente cândido, dizemos que elas têm défi ces de atenção.

Existe a ideia que as pessoas mais escolarizadas são pessoas mais educadas?

Vive-se com essa a ideia. E peço desculpa, mas as pessoas, com toda a boa vontade do mundo, estão a tornar as crianças mais estúpidas. Se as crianças não aprendem a tolerar as frustrações, nunca hão de ser engenhosas e nunca hão de aprender com as dificuldades. A dor dói, magoa, mas é uma oportunidade de crescimento e não há dores que venham por bem. As dores são as grandes oportunidades para nos interpelarmos e para nos transformarmos. E nós não damos oportunidade às crianças para serem crianças. Queremo-las como fossem clones daquilo que nós sonhámos ser, mas que não fomos capazes. E, nestas circunstâncias, tem que haver alguém com algum bom senso que diga “tenham cuidado que estão a comprometer tudo”.

As crianças brincam pouco?

As crianças brincam de menos. Se houvesse em Portugal um Ministério da Educação digno desse nome, teria outro tipo de cuidado com os recreios das escolas. Os recreios das escolas públicas são uma vergonha. Não reúnem condições indispensáveis para brincar. As escolas deviam ter recreios cobertos, mas brincar é, para os governantes, uma atividade tipo primavera-verão: quando está frio e a chover, as crianças não podem ficar nas salas, não podem ficar nos espaços comuns, não podem andar na chuva… Brincam nos beirais, que é uma preparação para os desportos radicais. Mas, na falta de cuidados em relação às crianças, há um exemplo que é o mais delicioso do mundo: não compreendo porque é que as crianças têm uma disciplina de Educação para Saúde e depois, nomeadamente nas escolas públicas, as casas de banho dos alunos não cumprem as condições indispensáveis em termos de saúde pública. Para a ASAE, a segurança alimentar é importante, a contrafação é importante. As crianças, não.

O que lhe apraz dizer sobre toda esta polémica em torno dos contratos de associação?

Não me choca que o Estado, quando não consegue cumprir os seus compromissos, possa delegá-los noutros. E possa, na sequência disso, fazer os contratos de associação que acha que deve fazer. Até aqui, isto é pacífi co. Agora, há dois aspetos que me parecem incontornáveis: quando as pessoas querem negociar de forma séria e leal, negoceiam a tempo e horas e não me chocaria se hoje estivéssemos a negociar uma transformação para daqui a dois anos, de maneira a que se possam pensar alternativas. Não acho que o Governo tenha estado bem neste aspeto. Agora, choca-me que depois as crianças sejam instrumentalizadas de uma forma absolutamente indecorosa e sejam trazidas para discussões que não são bem razoáveis. Instrumentalizar campanhas presidenciais à esquerda e à direita com este tipo de questões, peço desculpa, é um bom serviço em favor do obscurantismo.

Cada vez mais se ouve falar de crianças maltratadas…

Felizmente.

Tal não significa que haja maior número de crianças nessa condição?

Por amor de Deus. Estas são as melhores famílias que a humanidade conheceu. As atuais. O que significa que os nossos filhos estão seguramente melhores.

O que leva um pai a maltratar um filho?

(suspira) Muito sofrimento acumulado. Pessoas doentes sempre existiram ao longo da história. O sistema judicial é que não. É uma conquista importante da humanidade e todos nós devemos exigir que um sistema judicial, dedicado às crianças, seja um bocadinho de sistema judicial e que tenha um componente significativo de saúde, nomeadamente de saúde mental. Que nós aceitemos que os pais maltratem, não podemos aceitar; que nós aceitemos que o Estado, como garante de princípios fundamentais, seja omisso na proteção das crianças, é que eu acho que seja inadmissível. Quando grande parte das comissões de proteção tem pessoas da maior generosidade que estão em part-time ou em voluntariado, isto diz bem o que é a proteção das crianças em Portugal. Quando nós admitimos que haja crianças que, no fundo, estão sinalizadas como estando em perigo, mas estão em perigo durante anos… É aqui que eu acho que temos que parar e perceber o que é que queremos da proteção das crianças. Porque o Estado não cumpre a lei. Em média, as crianças estão confiadas aos centros de acolhimento cinco anos. O Estado comete ilegalidades sobre ilegalidades a esse nível.

Mas porque é que se maltrata?

Repare: ainda hoje há pessoas que suspiram pela escola do antigo regime, que era uma escola exemplar, onde cada erro representava uma reguada. Muitos destes pais tiveram escolas e famílias muito autoritárias. É por isso que os pais hoje, quando se trata de dizer que “não” a um filho, confundem autoridade e autoritarismo. E passam a vida quase a pedir desculpa com a ideia de que o “não” traumatiza. A autoridade é um exercício de bondade; o autoritarismo é um exercício de prepotência. A prova de que nós fomos crescendo com estes equívocos é um bocadinho esta. Ainda há pais maltratantes.

De todos os estratos sociais, portanto…

De repente, até parece que os pais da classe média não maltratam. Há crianças que andam em colégios para meninos com “pedigree” e chegam lá todos os dias com marcas de serem batidas. E quando têm 80 por cento nos testes ficam em pânico, porque são aterrorizadas constantemente… Essas crianças estão em perigo. Porque é que as comissões nunca protegem esse tipo de crianças? Temos que proteger mais e proteger melhor. E os tribunais têm que ser mais duros em relação aos pais que maltratam e negligenciam porque, por mais doentes que eles estejam, não têm o direito de desbaratar todos os recursos saudáveis dos filhos.

É possível ensinar as pessoas a serem bons pais?

É. Os pais precisam de falar pelos filhos: eles sabem muito bem que quem nos ama diz-nos por atos (e por omissões) qualquer coisa como: “sente-me em ti, pensa por mim e fala por nós”. E, de facto, os pais às vezes sentem, pensam, mas não falam. Não falam nem por eles, nem pelos filhos. Ensinar pode fazer-se de maneira divertida, pode significar dizermos aos pais que estão obrigados a dar uma hora por dia aos filhos. Uma hora de mãe ou uma hora de pai, faz muito melhor do que o óleo de fígado de bacalhau para as crianças crescerem. E é necessário dizer aos pais que têm fazer, pelo menos, uma asneira de oito em oito horas. Os pais que não fazem asneiras não são bons pais.

Costuma dizer que as pessoas têm o coração apertado até ao último botão. É o que se passa com os pais?

Acho que somos todos mal-educados. Todos tivemos uma educação judaico-cristã, uma educação positivista que, em muitos aspetos foi importante, mas que criou um vício de forma muito cartesiano que nos leva a imaginar que, quanto mais racionais, melhores pessoas. Fomos todos mal-educados para as emoções. Ainda continuamos a achar que ter raiva é uma coisa feia, como se a raiva não fosse o melhor ansiolítico do mundo. Quem assume que tem ódio de vez em quando? E o ódio só acontece quando alguém que nos ama nos magoa muito. As emoções são um GPS fantástico que temos na nossa vida e nós somos educados para reprimir as emoções. Quando reprimimos as emoções, além dos efeitos neurológicos que isto provoca, vai introduzir uma coisa que é pior: à medida que não transformamos as emoções em palavras, passamos a ficar partidos ao meio. Sentimos tudo, somos tremendamente intuitivos, mas depois deixamos de aprender a falar. Quanto menos somos educados para as emoções, menos educados nos tornamos para as palavras e mais começamos a adoecer.

Somos, então, mal-educados para o amor?

Somos também mal-educados para o amor. Mas para que é que é preciso educação sexual nas escolas? Vai-me desculpar, a sexualidade faz muito bem à saúde. Mas muitas vezes esta “educação moral e religiosa parte II” está a partir do pressuposto de coisas erradas. Educar para o amor é uma coisa muito mais séria. É muito importante dizer o que é o aparelho reprodutor e falar de meios contracetivos… nada disso merece questão. Mas o que eu gostava é que também se explicasse o que é que são as relações amorosas. Devia ou não devia ser proibido casar com o primeiro namorado? Só devia. Quer dizer: passamos a vida a dizer que errar é aprender, mas nas relações amorosas temos que acertar à primeira. Onde é que isto já se viu? Isto é mentira. Se queremos educar para as relações amorosas, devíamos dizer que devia ser proibido casar para sempre.

Não devia ser para sempre?

São todas para sempre. Mas o que eu gostava que as pessoas percebessem é que quanto mais importante é uma relação mais frágil se torna. Porque exigimos às pessoas que amamos – e bem –aquilo que não exigimos a mais ninguém. E quanto mais importante for uma relação, mais preciosa ela é. Era muito bom que nós dissemos que todas as relações morrem, sobretudo as mais importantes e, sobretudo, se foram maltratadas. No fundo, educam-nos para nós abotoarmos o coração até o último botão. E, às vezes, as pessoas despem-se facilmente por fora e têm dificuldade em perceber que o grande desafio da vida é despirmo-nos por dentro. É darmo-nos a conhecer por dentro.

Teve uma infância feliz?

Gostava de ter brincado muito mais. Gostava de não ter passado por algumas situações difíceis que vivi. Poderia ser muito melhor, seguramente.

 

http://www.asbeiras.pt/2011/03/eduardo-sa-%E2%80%9Cestamos-a-espatifar-a-infancia-das-criancas%E2%80%9D/

publicado por salinhadossonhos às 08:38 link do post | comentar | favorito
Sexta-feira, 09.12.11

TESSELATUM - MOSAICO ROMANO: BRINCAR COM MOSAICOS

Hoje fomos ao Museu D. Diogo de Sousa brincar com os mosaicos.

Começamos por conhecer a história de Tito que vivia na bracara Augusta.

 

De seguida fomos ver algumas ruinas de uma casa construida pelos romanos. Aí podemos observar alguns fragmentos de mosaicos e descobrimos formas geométricas nos padrões do mosaico. Aprendemos que as "pedrinhas" dos mosaicos se chamam "tesselas" e eram coladas com argamassa para construir passeios e decorar paredes.

 

Por fim pusemos mãos à obra: imaginamos um padrão, pintamos os quadradinhos com cores variadas e colamos quadradinhos iguais à cor que pintamos. A nossa imaginação foi longe: dinossauros, árvore de Natal, cruzes, cidades dos romanos e muito mais.

 

Foi uma manhã divertida a conhecer a história da nossa cidade e a brincar com mosaicos...

publicado por salinhadossonhos às 22:15 link do post | comentar | favorito
Terça-feira, 06.12.11

Algumas Citações de Eduardo Sá

Algumas Citações de Eduardo Sá

É psicólogo clínico, psicanalista e professor de psicologia clínica na Universidade de Coimbra e no Instituto Superior de Psicologia Aplicada, em Lisboa. Tem uma longa experiência de acompanhamento de fetos e de bebés, de crianças, de adolescentes e das suas famílias. Director da Clínica Bebés & Crescidos

 

As emoções tornam tão irrepetível tudo o que vivemos que, depois de vividos, todos os acontecimentos... «já eram». Isto é, por mais que os tentemos descrever, deixam de ser, exactamente, como os vivemos e, por isso, tornam-se... mentira

 

O silêncio só é silêncio quando não somos capazes de escutar com o coração

 

A melhor forma de não perder nada não é guardar: mas compartilhar

 

As pessoas morrem quando nos decepcionam e, para nossa perplexidade, com elas morre sempre um bocadinho, mais ou menos indecifrável, dentro de nós

 

Os mais velhos só aprendem quando aceitam que, para educar os outros, é necessário, em primeiro lugar, querer aprender com eles. E isso só é possível quando, nas intenções da educação, a aquisição de conhecimentos for substituída pelo carinho à sabedoria.

 

Amar é conhecer mais do outro do que ele sabe de si próprio, e descobrir que ele conhece mais de nós do que nós mesmos.

 

Crescemos imaginando que é possível aprender sem errar. No amor, por maioria de exigência. O que transforma, muitas vezes, o coração numa folha de cálculo. Ora, do mesmo modo que dar à luz não é tirar todas as dúvidas (mas pôr problemas), errar é aprender. E descobrir que, olhando por quem se olha, o importante nunca é saber como se faz, mas com quem se conta para chegar ao que se quer.

 

É certo que quase nada vale por aquilo que parece. E, no entanto, talvez o que pareça valha sobre o quase-nada que lhe falta para ser tudo aquilo que não é.

 

Transformar em qualquer coisa de sobrenatural tudo o que sentimos, só porque a racionalidade assim obriga, faz do silêncio uma enorme enciclopédia de todas as verdades por dizer.

 

Há muita diferença grande entre temer a morte e amar a vida. Temer a morte deixa-nos em dívida com a vida. Torna-nos minúsculos. Compenenetrados dos nossos papéis. Falsos e complicados. (...) Temer a morte deixa-nos levar pelas marés de todos os dias. Amar a vida desafia para as aproveitarmos nas rotas onde nos queremos ao leme

 

Às vezes, os políticos parecem repartir-se entre os que nunca se enganam e os que só reconhecem os erros dos outros. Os que se salvam imaginam a coerência como um lugar sem contradições. Ora, passamos bem sem os que nos indicam, uma a uma, as faltas dos outros. Perdoamos os erros, porque todos sabemos que são eles que nos ajudam a crescer.

 

Estranhos não são as pessoas que não se conhecem: estranhos são aqueles que, estando ao pé de nós, parecem nunca perceber o que se passa connosco.

http://ashera.multiply.com/journal/item/292

 

publicado por salinhadossonhos às 08:47 link do post | comentar | favorito
Domingo, 04.12.11

Preparando o Natal

Pintamos e decoramos boiões de vidro...

...e fizemos bonitas velas.

 

 

Bem haja a todos pela colaboração!

publicado por salinhadossonhos às 16:11 link do post | comentar | favorito

mais sobre mim

pesquisar

 

Dezembro 2011

Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
14
15
17
18
19
21
22
25
26
28
29
30
31

últ. comentários

mais comentados

tags

todas as tags

subscrever feeds

blogs SAPO


Universidade de Aveiro