Por Manuel Carmo Gomes, professor associado do Departamento de Biologia Vegetal, da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, Membro da Comissão Técnica de Vacinação
Uma vacina é uma substância derivada, ou quimicamente semelhante, a um agente infeccioso particular, causador de doença
Essa substância é reconhecida pelo sistema imunitário da pessoa vacinada e suscita da parte desta uma resposta que a protege de uma doença associada ao agente. A vacina, portanto, induz o sistema imunitário a reagir como se tivesse realmente sido infectado pelo agente. A primeira resposta do sistema imunitário, quer a uma vacina, quer ao agente infeccioso, é em geral lenta e inespecífica.
Porém, o facto de o agente não existir na vacina com capacidade para se multiplicar rapidamente e causar doença, dá ao sistema imunitário tempo para preparar uma resposta específica e memorizá-la. No futuro, caso o vacinado seja realmente infectado, o sistema imunitário responderá com rapidez e eficácia suficiente para o proteger. Apesar desta descrição ser válida, em termos gerais, a reacção individual a uma vacina depende dos antecedentes de estimulação do sistema imunitário da pessoa vacinada, da genética subjacente às características do sistema imunitário, e do seu estado geral de saúde.
Como se classificam Consideram-se em geral três grandes tipos de vacinas:
1. Inactivadas ou inertes - Inteiras: o agente bacteriano ou viral é inactivado e fica incapaz de se multiplicar, mas mantém todas as suas componentes e preserva a capacidade de estimular o sistema imunitário. Exemplos: VIP (polio), Pw (pertussis whole cell). - Fracções ou subunidades do agente infeccioso: podem ser partículas virais fraccionadas, toxinas naturais cuja actividade foi anulada, antigénios capsulares de bactérias ou de vírus, ou antigénios membranares de bactérias.Exemplo: DTPa (difteria, tétano, pertussis acelular).
Estas vacinas têm a vantagem de serem muito seguras, não havendo possibilidade de originar a doença contra a qual protegem. Têm a desvantagem de, em geral, requererem a toma de 3 a 5 doses para induzir uma resposta imunitária adequada e, mais tarde, esta resposta tem de ser estimulada através de reforços da vacina.
2. “Vivas” atenuadas O agente patogénico, obtido a partir de um indivíduo infectado, é enfraquecido por meio de passagens por um hospedeiro não natural, ou por um meio que lhe seja desfavorável. Oresultado destas passagens é um agente que, quando inoculado numa pessoa, multiplica-se sem causar doença, mas estimulando o sistema imunológico. Normalmente estas vacinas são eficazes apenas com uma dose (excepto as orais). Exemplos: VAP (polio); VAS, VAR, VASPR (sarampo, papeira , rubéola), BCG (tuberculose). Estas vacinas têm a vantagem de estar próximas do agente natural e de serem relativamente fáceis de produzir.
3. Por recombinação genética São produzidas através de técnicas modernas de biologia molecular e engenharia genética. Os progressos no fabrico de vacinas e a necessidade de simplificar os programas de vacinação têm conduzido à combinação de vacinas contra agentes diferentes. Isto se se comprovar que a resposta imunitária e a tolerância à combinação é pelo menos tão boa como às vacinas isoladas. Estas vacinas dizem-se combinadas ou polivalentes e são designadas em função do número de componentes. Por exemplo, a DTP é trivalente, a DTP-Hib é tetravalente e a DTP-Hib-VIP é pentavalente.
Segurança e eficácia De um modo geral, as vacinas produzidas nos países desenvolvidos são cada vez mais seguras. Oseu fabrico respeita normas internacionais que dão garantia de segurança e boa tolerância. A capacidade protectora das vacinas é objecto de estudo antes destas serem colocadas no mercado, sendo experimentada num grupo de animais não-humanos susceptíveis ao agente infeccioso e o seu efeito protector é estudado, por comparação com um grupo de animais não vacinados, quando os dois grupos são expostos ao agente. Este tipo de estudos permite averiguar a dose mínima capaz de induzir protecção e de normalizar a composição da vacina.
Numa fase mais avançada, esta é também experimentada em voluntários humanos. Investiga-se a resposta imune (anticorpos produzidos e sua titulação) e as variações individuais na resposta à vacina. Aeficácia de uma vacina depende desta ser correctamente transportada, armazenada e administrada. Por exemplo, devem ser respeitados os prazos de validade e as vacinas devem ser transportadas e armazenadas em geral entre 0 e 8ºC. Devem também ser protegidas da luz solar. Por uma questão de precaução, os frigoríficos ou arcas usados para armazenamento devem estar munidos de termómetro e circuito eléctrico alternativo ao circuito principal.
Porquê vacinar as crianças? As vacinas protegem-nas contra muitas doenças que se apanham por contágio e que podem ter graves consequências para a sua saúde. Muitas crianças em Portugal ainda apanham doenças como a hepatite, a papeira ou a tosse convulsa. Hoje em dia, temos uma certa tendência para considerar que as doenças infantis não são muito graves, graças ao impacto da vacinação sobre as mesmas. Mas as doenças infantis podem matar ou deixar sequelas muito graves. Doenças como a difteria, a tuberculose ou mesmo o sarampo, podem matar. Antes da vacina, centenas de crianças ficavam paralíticas devido à poliomielite. Sem vacinação na idade apropriada, elas podem desnecessariamente apanhar uma destas doenças. Isto não se aplica só às crianças, mas elas são em geral as principais vítimas de não se vacinar, dado que as suas defesas imunológicas estão em geral menos desenvolvidas que as dos adultos. Se não as vacinássemos talvez até nem acontecesse nada, caso não fossem expostos às doenças. Mas o problema é que isso não acontece e a maior parte das doenças transmissíveis passam facilmente de pessoa para pessoa, por exemplo, pela respiração.
As mais necessárias Algumas vacinas são uma combinação de vários componentes e protegem contra mais do que uma doença. As vacinas de que as crianças mais precisam são as seguintes: VASPR – Protege contra o Sarampo, a Parotidite (= papeira) e a Rubéola. Entre os 15 e os 18 meses e os 10 e os 13 anos de idade.VAP (oral) ou VIP (injectável) – Protege contra a Poliomielite. Aos 2, 4 e 6 meses e aos 5/6 anos.DTP-Hib – Vacina contra a Difteria, Tétano, Pertussis (= tosse convulsa) e o Haemophilus influenza (bactéria causadora de meningites). Nas crianças mais velhas é dada apenas a DT (retira-se a componente Pertussis e a Hib) ou a Td (Tétano com dose reduzida de difteria). Aos 2, 4 e 6 meses, entre os 15-18 meses, 5/6 anos e entre os 10-13 anos. HBV – Protege contra a Hepatite B, uma grave doença do fígado. À nascença, 2 e 6 meses. BCG – Protege contra a tuberculose, em particular as formas mais graves desta doença. À nascença. Men-C - Protege contra o meningococo (Neisseria meningitidis) do grupo C, pois ao todo existem 13 grupos causadores de doença. Por esta e outras razões não existe uma vacina contra todas as formas de meningite. Entre os 15-18 meses e aos 3 e 5 anos de idade.
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