Terapias expressivas

 


Por Dina Afonso Florêncio, Educadora de Infância, Formadora e Professora Universitária

A criatividade e a expressão artística são um benefício com o qual todos nascemos e que deve ser explorado

Desde tempos imemoráveis que o ser humano utiliza a arte como uma forma de expressão de conteúdos emocionais. Por vezes é muito mais fácil demonstrar os nossos sentimentos através de um desenho ou de uma dança do que falando e expondo-nos aos outros. Com as crianças tudo se passa da mesma forma, quando questionamos as crianças acerca deste ou daquele assunto, nem sempre elas têm vontade de partilhar connosco o que lhes vai na alma, mas no momento a seguir numa brincadeira na casinha ou no adereço escolhido no cantinho das trapalhadas, conseguimos de uma forma natural perceber tudo o que as preocupa, angustia ou até mesmo lhes dá prazer.
Não devemos “cortar” a criatividade de uma criança e quando ela brinca ao faz de conta, não deve nunca ser repreendida (porque não é assim que se faz), pois muitas vezes é no faz de conta que as crianças são elas próprias sem medos, sem receios de errar e sem que se criem expectativas à sua volta, por vezes tão difíceis de atingir.
Embora já há muito tempo haja um interesse crescente pela relação terapia e arte, foi somente a partir da década de 1930 que psiquiatras e outros terapeutas começaram a desenvolver importantes trabalhos com alguns pacientes (em especial pacientes com esquizofrenia) colocando a arte como uma forma criativa de auxiliar questões emocionais, resolução de conflitos, melhoria de auto-imagem, reestruturação emocional, minimização de traumas, superação de obstáculos, desenvolvimento de competências pessoais, treino de habilidades sociais, entre outras.
Com as crianças todos estes itens podem ser trabalhados, criando ambientes de liberdade expressiva com a ajuda de diversas técnicas artísticas, tais como dança, teatro, música, literatura, canto, artes plásticas e outras infinitas possibilidades criativas. No mundo das terapias expressivas não é a perfeição ou a obra artística que interessa, mas sim a actividade criadora, a imaginação, a criatividade e principalmente a emoção que se coloca nas diversas experiências.
Quando se trabalha com a dança, não se fazem coreografias, nem se preparam apresentações, dá-se sim a possibilidade à criança de dançar ao som de diversos estilos musicais que lhe proporcionem diversos sentimentos e ao mesmo tempo as façam libertar de todas as frustrações.
Todos nós fazemos a nossa própria terapia, mesmo que inconscientes; quando chegamos a casa cansados de uma semana agitada, quantas vezes colocamos uma música calma e nos deitamos no sofá a relaxar? E quantas outras vezes, igualmente cansados, colocamos uma música agitada e vamos para o meio da sala dançar? Tudo depende do nosso estado de espírito, das nossas emoções e principalmente de nós próprios e dos que nos rodeiam.
Através das terapias expressivas, podemos mostrar um lado de nós que nem nós próprios conhecemos, podemos libertar-nos e ser nós próprios, podemos contactar com o mundo do inconsciente e podemos essencialmente fazer com que as crianças com quem trabalhamos consigam sempre “pôr cá para fora” as tensões acumuladas e recalcadas.
Tão importante como aprender a ler ou a escrever é aprender a criar e a expressar as nossas emoções e sentimentos. Seja qual for a técnica utilizada, dançoterapia, psicodrama, arte terapia, ludoterapia ou musicoterapia, a expressão não é um espectáculo, mas apenas uma forma de contacto com o nosso inconsciente e com o que de mais profundo temos em nós. A verdade é que trabalhar com crianças é muito mais que transmitir-lhes saberes, pois é importante que saibamos matérias e conteúdos, mas mais importante ainda é que saibamos ser nós próprios, não temendo as falhas e sabendo lidar com as frustrações.
Mesmo no trabalho com crianças com necessidades educativas especiais é fundamental fazê-las sentirem-se capazes, pois a arte contribui muitas vezes para um aumento do desenvolvimento mental em pontos como: atenção, memória, raciocínio, curiosidade, observação, criatividade, entre outros.
Através de expressões artísticas podemos transmitir conteúdos como estes e outros mas de uma forma prazenteira, divertida e principalmente criativa e este processo não deve ser feito apenas com as crianças mas sim com as suas famílias, uma vez que as terapias expressivas em Educação de Infância devem sempre ser planeadas com uma intervenção contínua dos pais.
Assim sendo, e por exemplo se verificarmos que uma criança tem dificuldades de memória visual ou de temporalidade ou ainda de equilíbrio, recorrendo à dança tão apreciada no meio infantil como forma terapêutica podemos organizar uma sessão de dança educativa com danças de memória, de equilíbrio e ainda danças com marcação de ritmos diferenciados que a vão ajudar a superar estas dificuldades, mas de uma forma lúdica e ao mesmo tempo extremamente eficaz.
As propostas devem ser organizadas para que pais e filhos partilhem entre si momentos, momentos de prazer, de dor, de satisfação, de frustração, entre outros, mas sempre partilhados pelos que amamos e que nos amam. Num contexto real de trabalho, podemos planear sessões expressivas só com as crianças, só com os pais e sessões conjuntas entre pais e filhos onde juntos possam caminhar para um equilíbrio pessoal e familiar, ajudando-os a ultrapassar possíveis dificuldades.

Os benefícios das terapias expressivas na educação de infância são muitos, dos quais podemos destacar:
– Melhora a comunicação da criança consigo mesma e com o outro.
– Favorece a procura da autonomia e do equilíbrio de vida.
– Aumenta a espontaneidade e a criatividade da criança positivamente orientadas.
– Descarrega emoções recalcadas.
– Facilita a integração de crianças passivas e introvertidas.

Experimentar os benefícios das terapias expressivas, não é apenas criar uma obra de arte, tocar um instrumento ou movimentar o corpo, mas sim VIVENCIAR, em educação, o potencial e a força criativa que leva as crianças e os adultos ao auto-conhecimento, ao encontro do equilíbrio e à superação das suas dificuldades emocionais.

Saber mais em: www.vivenciarte.com

http://www.coisasdecrianca.com/artigos/detalhe.php?idArtigo=137

publicado por salinhadossonhos às 01:51 link do post | comentar | favorito